OS DIFERENTES SIGNIFICADOS DA EXPRESSÃO “OPINIÃO PÚBLICA”

Deivison Santos

Em decorrência da proximidade cada vez maior do início do processo eleitoral de 2018 no qual elegeremos novos representantes para diferentes cargos do sistema político, é comum ouvirmos a todo momento em jornais, revistas e programas de TV pessoas fazendo comentários e instituições se posicionando a partir de diferentes argumentos, muitos deles supostamente relacionados ao interesse popular, a um anseio do povo e a satisfação de uma “Opinião Pública”. Não é nada incomum, ainda mais na atual fase política que estamos enfrentando, termos acesso a informações que defendem ou explicitam questões relacionadas “às vontades da opinião pública”. Tem se tornado cada vez mais frequente ouvirmos ou lermos afirmações acerca dessa expressão, como, por exemplo: 1) “a opinião pública se mostra desconfiada em relação as atuais instituições políticas brasileiras”; 2) “com o objetivo de acalmar os anseios da opinião pública, Dilma aprova uma série de pactos com a sociedade para promover melhorias na educação, saúde e segurança”; ou, por fim, 3) “com claros objetivos de manipular a opinião pública, Temer aprova medida que visa promover uma intervenção no estado do Rio de Janeiro”. Mas o que seria essa “Opinião Pública”? Quais são seus significados e em quais sentidos ela é, normalmente, utilizada?

Em 1962, na Alemanha, um filósofo chamado Jürgen Habermas publicou um livro intitulado “Mudança Estrutural da Esfera Pública”. Nele o autor faz uma série de críticas acerca do papel prejudicial do surgimento da comunicação de massa e da institucionalização do que ele trata como esfera pública. Habermas aborda a esfera pública como um ambiente discursivo caracterizado pela paridade, acessibilidade e discutibilidade no qual atores da sociedade civil discutem, baseado em argumentos racionais, diferentes questões acerca da vida pública e política, chegando, por fim, a uma opinião pública. Porém, é claro que essa não é a única perspectiva existente acerca do que seria esse termo. Muito ao contrário, são muitos os sentidos e significados atribuídos a essa expressão bastante utilizada nos dias de hoje. Não obstante, trataremos aqui de três sentidos especificamente, sendo eles: 1) opinião pública como sujeito coletivo capaz de manifestar decisões; 2) opinião pública como opinião publicada; e 3) opinião pública como política de opinião. Para isso, usaremos como base o trabalho de Wilson Gomes (2001) intitulado “Opinião pública política hoje – Uma investigação preliminar”.

I_ Opinião Pública como sujeito coletivo

Como mencionado anteriormente, com frequência temos contato com afirmações que destinam um caráter ativo ao termo opinião pública. Afirmações do tipo “a opinião pública deseja uma saída da atual crise econômica brasileira” traz consigo um sentido que não pode ser generalizado, pelo fato de possuir uma característica singular e que, muitas das vezes, difere de outros significados atinentes a expressão. Nesse caso, a opinião pública não é, simplesmente, um conjunto de juízos, posicionamentos e opiniões de um público acerca de um determinado assunto. Em circunstâncias como a exemplificada, o termo em questão possui um caráter de “sujeito coletivo capaz de manifestar decisões” (GOMES, 2001).

Não obstante, também é interessante avaliar o uso de tal concepção relacionada as sondagens de opinião.  Em pesquisas de opinião, ao indagar uma pessoa sobre um assunto pré-determinado, a sua posição não precisa, de fato, ser uma posição dotada de um significado absoluto, de uma opinião bem definida e fundamentada. Em casos como esse, a opinião pública não tem a necessidade de ser uma grandeza estabelecida a partir da posse de opinião sobre um determinado assunto (GOMES, 2001). Usando as palavras de Gomes (2001): “dos públicos assim constituídos, o que se solicita é uma mera manifestação da vontade, fiapo de tomada de decisão, forma mínima da opinião, algo que pode se dar do seguinte modo: não tenho posição ou opinião a respeito de tal matéria e essa é a minha posição”.

II_ Opinião Pública como opinião publicada

Outra lente com a qual podemos avaliar a expressão “Opinião Pública” é a de “opinião publicada”. Muitos indivíduos leem colunas de jornais ou artigos específicos em sessões de cultura, esporte ou economia em diferentes meios de comunicação. É uma prática habitual os jornais disponibilizarem espaços em seus produtos jornalísticos para que pessoas dotadas de certo grau de influência e visibilidade pública expressem seus posicionamentos acerca de assuntos gerais que possuam um significativo nível de relevância política, social ou econômica. Em circunstâncias como essa, a opinião pública passa a possuir um caráter de opinião publicada. O que é discutido, então, não é uma opinião de um público como na seção anterior ou da instituição que disponibiliza o espaço (os editoriais sim caracterizam o espaço legítimo para o posicionamento institucional), mas sim, a opinião de um grupo ou agente dotado de certas características que o permitem explicitar sua posição sobre diferentes assuntos, sendo assim uma opinião publicada.

Mais especificamente, é importante ressaltar que a opinião publicada, nessa perspectiva, é diferente da opinião pública em seu sentido erudito (GOMES, 2001). De acordo com Gomes, há duas propriedades que vinculam o sentido clássico da “publicidade” da opinião pública. A primeira consiste em sua “forma de existência social”, caracterizada pelo seu modo de existir como opinião exposta e disponível socialmente para um número expressivo de indivíduos. E o segundo caso consiste em sua origem, e depende de “sua proveniência de uma esfera de debate público ou da discussão abertamente realizada por um público de pessoas privadas”. Por fim, em decorrência de sua vinculação exclusiva a sua exposição e disponibilidade cognitiva, a “publicidade” de opinião é mais adequadamente qualificada como opinião publicada do que como opinião pública.

III_ Opinião Pública como política de opinião

Nessa perspectiva, a opinião pública não é tratada como um agente passivo, ativo ou como opinião publicada, mas sim, como um tipo de estratégia de comunicação caracterizada por questões vinculadas a um grupo ou instituição, por exemplo. A política de opinião pode ser definida como um conjunto de estratégias utilizadas por um grupo de agentes privados interessados em criar uma “opinião do público” a partir de uma opinião particular do grupo em questão. Mas como assim? Usando um exemplo atual essa definição pode ficar um pouca mais clara. A prisão do ex-presidente Lula foi um acontecimento marcante na história política brasileira, muito pelo fato de ele ter sido um dos políticos que mais contribuiu para o desenvolvimento nacional e para a diminuição de índices ligados a pobreza e a desigualdade social. Atualmente, seu partido, o Partido dos Trabalhadores (PT), defende publicamente que sua prisão é resultado de uma “perseguição política” e, portanto, caracteriza-se como uma “prisão política”. Com esse discurso o PT pode ter por objetivo emplacar um posicionamento pré-definido em seus simpatizantes a partir de uma opinião institucional, do partido. Nesse caso, a defesa do discurso de que a prisão de Lula é resultado de um processo de perseguição política pode ser definido como uma política de opinião.

 IV_ Concluindo

O presente texto teve por objetivo aprofundar a discussão acerca dos diferentes sentidos e significados atribuídos a expressão “opinião pública”, a partir da especificação de três de seus possíveis significados. Essa discussão se mostra relevante pelo fato de que uma miríade de instituições de diferentes matizes usam de tal expressão para se posicionar ou para legitimar determinados discursos, logo o claro entendimento dos significados do termo em questão pode ser de importante contribuição para o desenvolvimento do potencial cognitivo dos cidadãos, principalmente em períodos conturbados politicamente como o que estamos vivendo nos dias de hoje, ainda mais com a proximidade das eleições.

Ademais, com o surgimento de novos fenômenos como as Fake News e o crescimento de grupos sociais e políticos comumente ligados a distribuição de notícias falsas objetivando influenciar o posicionamento do eleitorado, é importante sabermos diferenciar questões como a opinião pública da opinião publicada e da política de opinião. Conquanto, essa não é a única contribuição que esse conhecimento pode oferecer a população em geral. Também é relevante ressaltar que um maior aprofundamento nas estratégias de comunicação de diferentes instituições dotadas de forte capacidade de influência política, como instituições jornalísticas, pode ser interessante para que possamos tomar decisões mais fundamentadas e ponderadas acerca de uma profusão de assuntos. Por fim, com esse trabalho, também pretende-se expandir as perspectivas dos leitores acerca das diferentes possibilidades de se enxergar questões muitas das vezes bastante utilizadas, mas pouco conhecidas, como é caso dos significados da opinião pública.

REFERÊNCIAS

GOMES, W. Opinião pública política hoje: uma investigação preliminar. 2001.

HABERMAS. J. Mudança Estrutural na Esfera Pública. Editora UNESP, São Paulo, 2014.

RESULTADO DA 1ª FASE DO PROCESSO SELETIVO DE NOVOS ALUNOS

EDITAL DE SELEÇÃO 2018

RESULTADO DA 1ª ETAPA

CONVOCAÇÃO PARA A 2º ETAPA: ENTREVISTAS

 

O PET Ciências Sociais divulga o resultado da primeira etapa do Processo seletivo de novos alunos para o Programa e convoca os aprovados para a segunda fase do processo, composta por entrevistas.

As entrevistas serão realizadas no dia 13 de abril de 2018, sexta-feira, a partir das 14 horas. Cada candidato terá 10 minutos para a entrevista.

(A ordem dos candidatos para a realização da entrevista é aleatória).

 

LISTA DOS APROVADOS PARA A 2ª ETAPA E HORÁRIOS DAS ENTREVISTAS:

 

14h00 – Manuela Cortez da Cunha Cruz

14h10 – João Artur Guimarães Cavallet

14h20 – Umberto Bittencourt Meneguini

14h30 – Pedro Maia Cardoso

14h40 – Gabriella Nathan Asinelli da Luz Keiber

15h10 – Eloísa Pissaia

15h20 – Letícia Zanatta Bonaccorsi

15h30 – Lucas Gabriel Motta

15h40 – Gabriela Chaves Aguiar

15h50 – Matias Castro de Albuquerque Maranhão

 

Profº Dr. Rafael Cardoso Sampaio

Tutor do PET Ciências Sociais

Informações e Inscrições

Universidade Federal do Paraná

PET Ciências Sociais

https://petsociaisufpr.wordpress.com/

Rua General Carneiro, 460 – 9º andar – sala 903

80060-150 / Curitiba – PR

Fone: (41) 3360-5384

1ª RETIFICAÇÃO DO EDITAL DE SELEÇÃO 2018

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

PROGRAMA DE EDUCAÇÃO TUTORIAL

PET – Ciências Sociais

Atualizado em 03 de abril de 2018

1ª RETIFICAÇÃO DO EDITAL DE SELEÇÃO 2018

O PET Ciências Sociais comunica a abertura de processo de seleção de novos alunos para o Programa.

Para conhecer as atividades dos alunos que integram o programa, acesse:

https://petsociaisufpr.wordpress.com/;

https://www.facebook.com/PetCienciasSociaisUfpr/

 

INSCRIÇÕES

As inscrições ocorrerão entre os dias 2 de março e 9 de abril de 2018 (prazo alterado), na sala do PET Ciências Sociais (Campus Reitoria – Ed. Pedro I – 9o. andar – sala 903), nos seguintes horários: de segunda-feira à sexta-feira das 14h às 17h. No momento da inscrição, o(a) candidato(a) deverá entregar, juntamente com os documentos listados abaixo, a redação de acordo com as especificações deste edital.

 

BOLSA

A bolsa tem o valor de R$400,00 (quatrocentos reais) e se estende até o término do curso, desde que o(a) aluno(a) cumpra as atividades requeridas e apresente rendimento acadêmico necessário.

 

VAGAS

Das vagas disponíveis, temos: uma vaga para bolsista (exclusiva para um(a) estudante que esteja cursando o terceiro período) e três para voluntários(as), totalizando quatro vagas no projeto. As vagas serão imediatamente assumidas pelos(as) quatro primeiros(as) colocados(as) no processo seletivo. Os(As) demais candidatos(as) integrarão uma lista de espera, por ordem de colocação, e poderão ser convocados(as) de acordo com a necessidade do PET.

 

REQUISITOS PARA INSCRIÇÃO

  1. Cursar o  ou 5º período do curso de graduação em Ciências Sociais da UFPR
  2. Não apresentar mais de duas reprovações no histórico escolar
  3. Não receber outro tipo de bolsa
  4. Ter disponibilidade de 20 horas semanais para as atividades do programa

 

DOCUMENTOS NECESSÁRIOS

  1. Cópia de carteira de identidade
  2. Cópia de CPF
  3. Histórico Escolar com IRA

 

ETAPAS DO PROCESSO DE SELEÇÃO

 

Todas as etapas do processo seletivo são eliminatórias e classificatórias, sendo 70 a nota mínima para ser aprovada para a etapa seguinte. São elas:

  1. Análise do Histórico Escolar
  2. Carta de Intenção
  3. Redação
  4. Entrevista

 

ESPECIFICAÇÕES PARA ESCRITA DA REDAÇÃO

A redação deverá ser formulada em no máximo 2 (duas) páginas e deverá seguir as normas da ABNT (fonte Times New Roman 12, espaçamento 1,5 e texto justificado). Para o desenvolvimento da redação, o(a) candidato(a) deverá escolher 1 (um) dos seguintes enunciados:

  • Refletindo acerca da Reforma do Ensino Médio, discuta possíveis implicações deste novo paradigma de ensino sobre a estratificação social;
  • Discuta como os cortes das políticas públicas de permanência universitária podem influenciar a democratização do ensino superior;
  • Argumente sobre as implicações que o aumento de fake news podem ter nas eleições de 2018;
  • Discorra sobre como a universidade pública pode gerar um retorno e uma maior interatividade com a comunidade externa;
  • Faça uma análise sobre como a arte pode ser uma ferramenta transformadora para a sociedade e suas possíveis conexões com as Ciências Sociais.

 

CALENDÁRIO DO PROCESSO SELETIVO

Inscrições: 02 de março a 09 de abril de 2018 (retificado).

Resultado da Redação: 11 de abril (retificado).

Entrevista: 12 e 13 de abril (retificado) a partir das 14:00 horas, na sala do PET Ciências Sociais.

Publicação do resultado: 14 de abril (retificado).

Prazo de validade do processo seletivo: até 31 de junho de 2019.

 


Informações e Inscrições

Universidade Federal do Paraná

PET Ciências Sociais

https://petsociaisufpr.wordpress.com/

Rua General Carneiro, 460 – 9º andar – sala 903

80060-150 / Curitiba – PR

Fone: (41) 3360-5384

SEGURANÇA PÚBLICA E JUVENTUDE NO BRASIL

Texto do bolsista Pedro Vanzo.

Quando falamos em segurança pública, muita coisa vem a nossa cabeça. Primeiramente, e quase de imediato, a associação da ideia de segurança pública se faz diretamente com um maior policiamento de nossos bairros, cidades, etc. Assim, construímos uma ideia de que segurança pública são políticas que se constroem visando o maior impedimento possível de crimes e atentados contra as leis, através de seus mecanismos policiais e penais.

Com isso, entende-se como segurança pública, algo que compete ao Estado enquanto gerenciador de toda vida pública. E como compete ao Estado toda a responsabilidade de garantir segurança, é através das criações e aplicações de políticas públicas que podemos medir – de certa forma – como estão os níveis de eficácia dessas políticas. Portanto, como podemos pensar o tema da segurança pública no contexto brasileiro¿ Quem são as pessoas mais afetadas, e as que mais afetam esse tópico da segurança pública¿

Segundo autores como Helder Ferreira, Natália de Oliveira Fontoura, Luseni Aquino e André Gambier Campos, que escrevem no livro ‘’Juventude e Políticas Sociais no Brasil, os números oficiais que existem sobre o tema violência, apontam que são os jovens as maiores vítimas da violência em todo Brasil. Segundo estudos que estes autores apontam, os jovens estão não só entre os agressores de tais violências, mas também como vítimas dela. Com isso, apontam que, a criminalização precoce com políticas de repressão focadas especificamente nos jovens, tende a fortalecer ainda mais o ‘’comportamento desviante’’.

Estatísticas mostram que as taxas de mortalidade da população brasileira vêm decrescendo progressivamente ao longo dos anos, mas que tal fenômeno não ocorre entre a população jovem (aqueles com idade entre 15 e 29 anos). As vítimas no Brasil são em geral jovens do sexo masculino, pobres e não brancos, com poucos anos de escolaridade e que vivem em áreas mais carentes das grandes cidades brasileiras.

O que ocorre, em muitos dos casos, é uma enorme exposição da mídia de episódios violentos que envolvem adolescentes e jovens, o que leva a toda sociedade acreditar que estes de fato são os indivíduos mais violentos do meio social, ou ainda que, são insuficientemente atingidos por ações penalizadoras.

Segundo os autores mencionados, ser jovem se associa diretamente com a inconsequência, a paixão pelas emoções fortes, os excessos impulsivos, a vulnerabilidade psicoemocional ou ainda a disposição que levam a comportamentos de risco. Porém, apontam que, é interessante observar que os próprios jovens percebem a convivência com riscos como um aspecto direto da condição juvenil, sendo este o principal aspecto negativo de ser jovem no Brasil. À medida que aprofunda a inserção social dos jovens ao mundo adulto, ele se vê forçado e verificar a validade e solidez de todas instituições, das normas e dos valores sociais com os quais precisa lidar cada vez com mais frequência. Nesse sentido, os autores apontam que a reflexão que se faz sobre o tema do risco deve sem dúvidas considerar essas dificuldades e estratégias que os jovens passam ao se colocarem em perspectiva com o mundo adulto, e que as ações que visam a prevenção de danos façam sentido para esses próprios jovens, e que realmente sejam efetivas.

Esses autores ainda apontam que acontece com frequência um olhar de desconfiança para os jovens, principalmente para jovens pobres. Com isso, citam Abramo (1997, p.31-32) que diz que relacionar juventude a perigo traz somente retrocessos para o desenho das políticas públicas e para o desenvolvimento dos jovens brasileiros. Porém, cabe a reflexão de que é preciso não estigmatizar esses jovens e não criminalizá-los, o que gera efeitos perversos e contrários ao próprio propósito das políticas públicas.

Conforme vários estudos têm apontado, observa-se na sociedade brasileira uma ampla aceitação da violência como instrumento legítimo para solução de conflitos. Com isso, tal aceitação tende a repercutir de forma fértil e duradoura entre os jovens, exatamente porque do ponto de vista desses jovens, a grande questão em jogo se torna uma preservação de suas autoimagens, de uma identidade ainda em construção. Como em todo processo de reconhecimento, a afirmação da identidade e sua significação para o próprio jovem só se fazem perante o outro e o grupo mais amplo, e necessita sempre ser defendida, ainda que por cima de violência. No entanto, é fundamental se atentar para o fato de que o envolvimento dos jovens com as várias manifestações da violência – sejam como autores ou como vítimas – diz respeito também ao tortuoso processo de construção e afirmação da identidade juvenil.

Com isso, então, os jovens se tornam uns dos principais alvos das políticas de segurança. As ações tradicionalmente consideradas como repressivas do crime e da violência tendem a ter como alvo os jovens, seja em suas implementações ou em alguns de seus mecanismos de atuação. Essas ações se dividem, em termos genéricos segundos os autores, em policiamento ostensivo, persecução penal e execução penal. No Brasil, essas ações estão a cargo e são executadas prioritariamente pelos governos estaduais e do Distrito Federal, por meio de um aparato composto por suas Polícias Militares e Civis, seus tribunais de justiça, seus ministérios públicos, suas defensorias públicas e seus estabelecimentos penais – prisões, cadeias públicas etc.

Além de políticas com caráter repressivo, também se encontram políticas públicas com caráter de prevenção. Junto dessas políticas de prevenção, estão também políticas de educação, cultura, esporte, trabalho, bem como a proteção dos direitos dos jovens vitimados ou vítimas potenciais. Das políticas de prevenção, os autores mencionam diversos projetos do governo federal, porém o que mais se destaca como sendo a principal política pública voltada para os jovens, é o Programa Nacional de Segurança com Cidadania (Pronasci). Lançado em 2007, esse projeto é composto por 94 projetos diferentes em todo país, e constitui a principal iniciativa do governo federal na área de segurança pública, tendo como foco os jovens de 15 a 24 anos.

Porém o que se observa no Brasil, é que a análise da relação entre juventude e segurança pública indica que as políticas públicas desenvolvidas nesta área se caracterizam principalmente pelo teor repressivo, especialmente aquelas ligadas a abordagem policial e ao sistema penal. Portanto, ainda que existam iniciativas que procuram a prevenção de danos, o caráter repressivo tem predominado nas políticas de segurança pública, e o jovem brasileiro cumpre o papel de ‘’estranho’’ e diferente de uma sociedade tida como ‘’normal’’. Com isso, se faz necessária uma construção teórica e prática para um problema que se faz completamente presente na construção da sociedade brasileira. Pensar hoje em melhores políticas públicas – políticas que repelem todo teor repressivo possível – para juventude no Brasil, é trabalhar em uma necessidade básica para se pensar num melhor futuro de nosso país.

REFERÊNCIAS

CASTRO, J. et alii. (Org.) Juventude e políticas sociais no Brasil. Brasília: IPEA, 2009.

BODÊ DE MORAES, P. R.; Kulaitis, L. F. M. Controle Social Perverso e a policialização das políticas públicas: o caso da Segurança com Cidadania. Anais do Encontro Internacional Participação, Democracia e Políticas Públicas: aproximando agendas e agentes. Araraquara-SP: UNESP, 2013.

FOUCAULT, Michel. Os Anormais. São Paulo, Martins Fontes, 2001.

Parentesco e maternidade: uma questão de gênero

                                                                                                                                 Por Yasmin Vitória

Engels analisa no prefácio da quarta edição da origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado (1984), a passagem do direito materno para o direito paterno, e a passagem da poligamia para a monogamia, que foram “os primeiros passos” para a constituição da família ocidental patriarcal burguesa.

Como fica claro pelo título da obra, a história da família ocidental se deu juntamente com o avanço do capitalismo e do Estado, e está ligada a história da Igreja e da ciência. A família nesse contexto é uma unidade de reprodução e de produção, de indivíduos e de riquezas. A mulher aqui tinha direitos limitados, como em relação a propriedade privada; seus deveres eram de casar (o casamento como instituição jurídica do Estado), cuidar da casa e ser mãe, garantindo a reprodução. O sangue, o nome, e a terra eram do marido. O homem, podia transitar livremente pela esfera pública, e sua imagem está ligada a ideia de provedor da casa.

Ele está na esfera da cultura, da tecnologia, da ciência, do público, da força. A mulher cuidava dos filhos, da casa, e de si, para o marido. Esse modelo, mesmo sofrendo transformações, se naturalizou, e mais do que isso, se naturalizou a figura da mulher enquanto um sujeito que é mãe, e é mãe por natureza[1].

Essa família patriarcal tradicional, é substituída no contexto urbano pela “família conjugal moderna” como chama Mariza Corrêa, “onde a finalidade do casamento não é mais principalmente a manutenção de uma propriedade comum. ” (2003, p.16). Em uma abordagem mais contemporânea que Engels, Bourdieu, ao tratar sobre o que ele chama de “o espírito da família”, destaca que a família é definida não só por aparatos estatais, mas também por uma cosmologia de palavras como casa, lar, e unidade doméstica, que constroem a realidade social. Como coloca Bourdieu, “quando se trata do mundo social as palavras criam as coisas” (2008, p. 127). Criam categorias de mãe e pai. As definições de quem é o pai ou quem é mãe e o que faz de cada um deles pai e mãe são complexas e variam dependendo da realidade que for analisada. Existe tanto a mãe que cria, e não pariu; a mãe que pariu e que diz que não é mãe, seja por qualquer razão que faça com que ela não se identifique com o termo, por exemplo.

Vemos que a família dita estruturada é composta de uma parentalidade completa, ou seja, com pai e mãe, que têm posições marcadas pelo seu gênero e, portanto, obrigações diferentes. Como coloca Strathern “Existe o que podemos chamar de exigência de parentesco para a parentalidade, ou seja que a criança tenha dois pais identificáveis iguais em termos de doação genética, mas desiguais em termos dos papéis que vão representar na vida dela.” (1995, p.306).

Essa naturalização da família nuclear e dos ideais a sua volta recai sobre todos os indivíduos socializados pois é um círculo de reprodução da ordem social; porém, recai com maior peso de responsabilidade às mulheres, que são encarregadas de “salvaguardar” o que está no âmbito da natureza, e em seguida da família, dos filhos, da casa, do privado, do cuidar. A categoria do pai só é acionada nessa família tradicional no momento em que é sugerido um ato de violência e controle dos filhos, como se o pai tivesse uma autoridade que a mãe não alcança (por ser mulher).

 

“Ser um homem” significa que, em adição a questão específica de ter certos órgãos genitais, há a posse de qualidades que supostamente faltam as mulheres. Falar do “homem da casa” ou “do homem da família” ou “daquele que veste as calças” é falar de alguém que naturalmente é mais capaz de assumir autoridade e responsabilidade pela família.  (Schneider, 2016 p.19)

 

Por não corresponder ao seu papel social, uma mulher que não quer ser mãe, está interrompendo a linha reprodutiva de uma família, que gera novos indivíduos e produz riqueza, que mantém a sociedade em continuidade. A mulher que escolhe não ter filhos escolhe não gerar uma nova “família”[2] . Não ter herdeiros; não perpetuar seus genes; para algumas visões “não ser mulher de verdade”. O desvio das mulheres da maternidade convencional, considerada um instinto feminino, é visto como uma negação da natureza. Dependendo dos motivos que a mulher não deseja ter filhos, como vontade de focar na carreira (novamente não é pensada a ideia do pai como um possível companheiro para dividir as tarefas domesticas), ela é pintada como egoísta[3], não disposta a dar todo o amor que recebeu dos seus pais. Na realidade, não a nada que comprovadamente faça com que uma mãe (ou um pai) sinta amor por um filho. Logo depois que ele nasce, não há nenhum dispositivo fisiológico que contamine a pessoa com um amor eterno e inabalável por um ser que precisa de 100% da sua atenção. Esse amor é socialmente construído, e faz parte dos imaginários relacionados a maternidade. Existe um grande número de mães que relatam ter se arrependido da escolha de ser mãe[4], ou se frustrado ao perceber que a maternidade não é um dom, uma benção ou um indicativo de realização pessoal.

As mulheres que abortam, que não são poucas, (mais de uma em cada cinco mulheres entre 18 e 39 anos de idade já recorreu a um aborto na vida[5]) enfrentam todo tipo de violência verbal do moralismo que cai sobre elas, sem falar do medo, dor, e solidão que enfrentam pelo modo que essa questão é vista e tratada no Brasil; não como uma questão de saúde e escolha da mulher, mas de opiniões e padrões religiosos e morais.

O mesmo não acontece com pais que abandonam seus filhos, de um modo que a mulher não poderia fazer o mesmo, sem passar por grave retaliação. Me parece aqui, que a biologia coloca mais um problema na condição de mãe, além dos sociais que já foram apontados. Como coloca Marylin Strathern, existem “problemas naturais que a cultura enfrenta na definição do pai em contraste com a mãe. Os processos físicos da mãe garantem continuidade com o filho enquanto as relações do pai são descontinuas” (1995, p.324). Ao passo que uma mulher passa nove meses com um feto se desenvolvendo no seu corpo, em oposição ao pai que pode mudar de ideia em relação a criar e “ter” aquele filho ou não, a mulher que decide abandonar seu filho depois que ele nasceu é profundamente patologizada (seja por qualquer motivo; seja ela não ter condições financeiras e ou psicológicas, não ter ajuda do pai, não sentir o amor que a cultura diz que toda a mãe sente).

A paternidade não é tratada como uma obrigação, ela é vista quase que como uma qualidade que alguns homens têm e outros não; um modo de vida que alguns homens não se adaptaram. Porém a maternidade, desde o momento que se descobre uma gravidez, é obrigatória (em menor grau, antes também[6]). O direito de decisão sobre a continuidade dessa gravidez (aborto) é negado pelo Estado brasileiro. A mulher deve renunciar de suas outras atividades, como emprego e estudo em prol do filho, se sacrificar enquanto pessoa, por um outro ser que ainda não existe.

 

Cada um e encarado como igualmente relacionado ao filho. Ao mesmo tempo um dos pais é também encarado como muito mais dispensável que o outro — e o ônus da prova da existência da união recai mais pesadamente sobre um parceiro que o outro. Em suma as mulheres são as guardiãs do ideal. São elas que têm de mostrar que a procriação é um fato natural e estabelecer a possibilidade de sua criança ter um pai. (MARILYN STRATHERN, 1995, p.314)

 

Não é à toa que a quantidade de mães solos e mães de filhos sem o pai registrado na certidão de nascimento é grande. As mães solo chefiam 39% das famílias brasileiras[7], enquanto 5,5 milhões de crianças no Brasil não tem o nome do pai na certidão de nascimento[8].

Afinal, em que nós pensamos quando pensamos sobre maternidade? A mulher no Brasil de hoje já é inserida no mercado de trabalho e no contexto urbano, e conquistou muito mais independência do que na época que Engels analisava a origem da família. Sua vida existe muito além da casa. É perceptível, porém, que muitas dificuldades e cobranças encontradas pelas mães hoje vêm de concepções machistas que inserem os dois gêneros nesse imaginário de dicotomias como natureza e cultura/privado e público. A maternidade, claramente, passa por outras coisas que não esse valor cultural romântico.  Obviamente, a maternidade é um tipo de parentesco que não pode se desfazer; é impossível ser “ex-mãe”, do mesmo modo que poderia ser “ex-esposa”. Sabemos que também é impossível ser “ex-pai”. Porém, quando olhamos para a paternidade, podemos perceber quais ônus a mulher recebe por sua cultura, e isso não é só existente por sua condição de mãe, mas porque a mãe é uma mulher e o pai é um homem.

O parentesco nada mais é do que um núcleo de relações sociais, que se são desiguais para os dois gêneros, serão desiguais dentro da família também. A ideia de violência contra a mulher está ligada a ideia de violência doméstica. Tudo isso é parte da criação de histórias maiores, do que é família no ocidente e no Brasil, a partir de micronarrativas pessoais. Quando definimos qual é a função de uma mulher, também definimos qual não é.

REFERÊNCIAS

ENGELS, F. Prefácio à quarta edição 1891. In: A origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira S.A., 1994.

BOURDIEU, P. Apêndice: o espírito da família. In: Razões Práticas: Sobre a teoria da Ação. Campinas: Papirus, 2008.

CORREA, M. Repensando a Família Patriarcal brasileira. Notas para o estudo das formas de organização familiar no Brasil. In: Colcha de retalhos. 2. ed. Campinas: Editora da Unicamp, 1993.

SCHNEIDER, D. Parentes + “A família. O parentesco americano. Uma exposição cultural. Petrópolis, RJ: Vozes, 2016.

STRATHERN, M. Necessidades de pais, Necessidades de Mães. In: Estudos Feministas, IFCS/UFRJ – PPCIS/UERJ, vol.3, n.2/1995.

BUTLER, J. O parentesco é sempre tido como heterossexual? Cadernos Pagu. Campinas, n 21, p.219-260, 2003.

DINIZ, D; MEDEIROS, M. Aborto no Brasil: uma pesquisa domiciliar com técnica de urna. Ciência & Saúde Coletiva. Brasília, n 15, p. 959-966, 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csc/v15s1/002.pdf>.

EFRAIM, E. Chefiando 39% dos lares, mães solo ainda sofrem preconceito. São Paulo: Estadão, 2017. Disponível em: http://emais.estadao.com.br/noticias/comportamento,chefiando-39- dos-lares- maes-solo-ainda-sofrem- preconceito,70001690374 > Acesso em: 9 dezembro 2017.

EFRAIM, A. Mulheres que não querem ser mães ainda são julgadas por suas escolhas. Estadão, 16 outubro 2017. Disponível em: http://emais.estadao.com.br/noticias/comportamento,mulheres-que- nao-querem- ser-maes-ainda-sao- julgadas-por- suas-escolhas,10000082223>. Acesso em: 9 dezembro 2017.

BASSETTE, F. Brasil tem 5,5 milhoes de crianças sem pai no registro. Exame, 2017. Disponivel em: https://exame.abril.com.br/brasil/brasil-tem- 5-5- milhoes-de- criancas-sem-pai-no- registro/>. Acesso em: 9 dezembro 2017.

LISAUSKAS, R. Precisamos falar sobre as mulheres que se arrependem da maternidade. Estadão, 2017. Disponível em: http://emais.estadao.com.br/blogs/ser-mae/precisamos- falar-sobre-as- mulheres-que- se-arrependem- da-maternidade/> Acesso em: 9 dezembro 2017.

Notas de rodapé

[1] Aqui, o parentesco é sempre tido como heterossexual, como discorre Judith Butler. Para isso, confira: BUTLER, J. O parentesco é sempre tido como heterossexual? Cadernos Pagu. Campinas, n 21, p.219-260, 2003.

[2] Aqui pensando família em como é dito pelo estado e pelo senso comum, onde casal sem filhos não é considerado família.

[3] Ver http://emais.estadao.com.br/noticias/comportamento,mulheres-que- nao-querem- ser-maes- ainda-sao- julgadas-por-suas- escolhas,10000082223

[4] Ver http://emais.estadao.com.br/blogs/ser-mae/precisamos- falar-sobre- as-mulheres- que-se- arrependem-da-maternidade

[5] Segundo a Pesquisa Nacional de Aborto realizada em 2010 pela antropóloga Debora Diniz e pelo sociólogo Marcelo Medeiros. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/csc/v15s1/002.pdf>.

[6] Ver http://reporterunesp.jor.br/2017/05/14/maternidade-compulsoria/

[7] Ver http://emais.estadao.com.br/noticias/comportamento,chefiando-39- dos-lares- maes-solo-ainda-sofrem- preconceito,70001690374 >

[8] Ver https://exame.abril.com.br/brasil/brasil-tem- 5-5- milhoes-de- criancas-sem-

pai-no- registro/>

 

SELEÇÃO DE BOLSISTAS

Está aberto o edital de inscrição de novos integrantes do PET de Ciências Sociais.

As inscrições ocorrerão de 2 de março à 2 de abril e os documentos necessários devem ser entregues em mãos a um dos membros do PET, na sala do programa (Reitoria, 9º andar ao lado do Centro Acadêmico) de segunda à sexta das 14h às 17h.

Entre em contato com membros do PET para mais informações ou em caso de dúvidas.

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ELITES ESTATAIS: OS REPRESENTANTES DOS ESTADOS*

Deivison Santos

A Elite Estatal brasileira pode ser caracterizada por vários grupos, podendo ser relacionada a cargos eletivos da estrutura política nacional (deputados estaduais, deputados federais, senadores, governadores, presidente) ou outras estruturas como a econômica e burocrática (ministros de Estado, secretários, presidentes de instituições financeiras, de instituições reguladoras, líderes de grandes partidos). Ao longo do desenvolvimento do sistema organizacional político/econômico/burocrático do Brasil uma profusão de grupos se destacaram nas posições de poder e influência na estrutura política nacional, sendo eles compostos por indivíduos que detinham – e muitos ainda detém – grande responsabilidade no processo de desenvolvimento político-econômico brasileiro.

Durante a Primeira República, os bacharéis de Direito marcaram sua presença nos cargos associados a decisões políticas e de grande relevância na organização política e econômica do País. Como trabalhado por Loureiro (1997), nos anos da Ditadura Civil-Militar (1964-1985), houve uma significativa mudança na profissão dos funcionários do alto escalão do governo, havendo a partir de então uma maior participação de profissionais da área econômica, em específico economistas. Além disso, estudos também mostram como se dão os processos de recrutamento, assim como qual o nível de expetise dos ministros de estado que ocupam cargos de grande importância no contexto político nacional (INÁCIO, 2013; FRANZ, 2017). Porém, pretendo neste trabalho destacar algumas especificidades de uma parcela da elite estatal brasileira, a dos Senadores da República.

O Senado Federal é uma das Casas do Poder Legislativo brasileiro dotada de grandes singularidades. Os senadores são figuras extremamente significativas dentro do cenário político nacional, exercendo um papel muito relevante no que se refere a legislação e fiscalização do governo federal. O Senado brasileiro está entre as câmaras altas com mais poderes de intervenção em assuntos diversos do mundo, tendo no caso brasileiro um papel muito importante no que se trata dos assuntos econômicos (NEIVA, 2008). Ademais, como também é evidenciado por Pedro Neiva (2008) em seu artigo publicado pelo Senado Federal no livro “Os poderes do senados de países presidencialistas e o caso do Brasil”, a força e influência do senado brasileiro pode ser exemplificado pelo número de matérias aprovadas de autoria dos senadores no período que vai de 1988 a 2007, sendo este, em uma análise per capita, duas vezes maior do que os projetos de lei aprovados pela Câmara dos Deputados.  Mas qual o perfil dos representantes que compõem esse pequeno grupo de 81 políticos com tamanho poder?

Os representantes dos estados no Legislativo Federal

No caso do senado brasileiro é comum vermos pessoas que já possuem certa idade ocupando uma cadeira no parlamento. Uma das coisas que podem contribuir para isso é o fato de um indivíduo apenas ter a possibilidade de se candidatar ao Senado tendo, no mínimo, 35 anos. Outros fatores relevantes podem ser identificados através das funções exercidas por esses parlamentares antes e ao longo do mandato, de onde vem e quais são seus níveis de escolaridade.

Costa (2010) aborda essas questões e outras analisando o perfil e composição social dos representantes dos estados no Congresso entre 1987 e 2007.  Em sua pesquisa ele identifica algumas peculiaridades muito interessantes no que se refere às variáveis delimitadas como, por exemplo, o fato de os senadores possuírem, na maioria, um alto grau de instrução, tendo ao menos o nível superior completo, com cerca de 34% dos parlamentares formados em Direito. Além do mais, é explicitada as características ocupacionais desses representantes, sendo estas caracterizadas predominantemente por empresários e profissionais liberais. Interessante também é o grau de crescimento nas eleições de 2006 do primeiro grupo citado, que chegou a ocupar cerca de 48% das cadeiras no senado.

Não obstante, a carreira política de um senador tende a ser mais extensa do que a de parlamentares de outras casas como a Câmara dos Deputados, tendo eles, em muitas das ocasiões, passado por vários cargos eletivos antes de assumir a posição de representante dos estados. Muitas vezes um senador eleito já passou por cargos como prefeito, deputado estadual/federal e/ou governador. Essa é uma especificidade que já vem de algum tempo. Já na década de 90, 69% dos senadores já tinham passado por cargos no legislativo municipal, estadual e/ou federal, além de 42% já ter tido a chance de governar (LEMOS e RANINCHESKI, 2002).

Levando em consideração pesquisas que partem dos anos 2000, podemos ressaltar que avaliando a experiência dos parlamentares nas funções mais elevadas no sistema político brasileiro, sendo essas possivelmente definidas pelos cargos de presidente, vice-presidente, senador, governador e vice-governador, em um recorte de 2003 a 2007, Sanchez (2008) pôde confirmar que a maioria dos senadores analisados ao longo deste período tinham uma longa carreira política e bastante experiência em uma miríade de cargos eletivos. Em sua pesquisa ele faz uma comparação entre o senado brasileiro, uruguaio, chileno e argentino.

Tratando das últimas eleições para o Senado Federal, percebe-se que esse perfil mais exclusivo dos senadores da república permaneceu parcialmente vigente, visto que mais de 80% dos eleitos possuem curso superior completo, além de figuras públicas bastante conhecidas no cenário político e com uma larga experiência no poder terem permanecido em cargos de grande expressividade na política nacional, por exemplo os senadores Fernando Collor (PTB), Álvaro Dias (PV), José Serra (PSDB) e Ronaldo Caiado (DEM). (Disponível em: <http://g1.globo.com/politica/eleicoes/2014/blog/eleicao-em-numeros/post/dos-27-senadores-eleitos-apenas-5-sao-mulheres.html>. acesso em: 11/11/2017).

Por fim, mas não menos importante, uma das características que, infelizmente, ainda permanece vigente na representatividade da política brasileira é o baixo índice de mulheres em cargos de comando. Atualmente, apesar de existir ferramentas legislativas como a Lei nº 9.504/1997, que obriga a garantia de vagas numa proporção de 30/70% nas eleições legislativas entre candidatos e candidatas, ainda temos uma baixíssima presença de mulheres nos parlamentos com cerca de pouco mais de 10%  na Câmara dos Deputados e cerca de 14% no Senado Federal (SENADO FEDERAL, 2016).

Considerações Finais

Este trabalho teve por objetivo responder, de forma breve, a questão do perfil dos representantes dos estados no Congresso Nacional. Analisando os fatos mencionados podemos identificar que, no Senado Federal, há uma certa tendência em haver representantes do sexo masculino, com alto grau de escolaridade e uma longa carreira política. Sendo assim, muito ainda se pode discutir acerca do que podemos melhorar quando tratamos de uma representação mais justa e condizente com a realidade e a diversidade da sociedade brasileira.

Além disso, essa discussão torna-se ainda mais relevante quando sabemos que essas características dos nossos representantes existem a muitos anos e, inclusive, ainda persistem mesmo após uma série de medidas serem acatadas para que haja uma maior igualdade de oportunidades entre os cidadãos de nosso País.

 

* Trabalho apresentado como forma de avaliação parcial da disciplina de Teoria das Elites e da Classe Política do curso de Ciências Sociais na Universidade Federal do Paraná.

Referências

COSTA, Luiz Domingos. Os representantes dos estados no Congresso: composição social e carreira política dos senadores brasileiros (1987-2007).  DISSERTAÇÃO DE MESTRADO. Campinas, 2010.

FRANZ, P. Técnicos e políticos: carreira e expertise no gabinete ministerial brasileiro. In: ALACIP, ed. IX Congresso latinoamericano de Ciência Política. Montevidéu, 2017.

LEMOS, Leany Barreiro (Org.). “Os poderes dos senados de países presidencialistas e o caso do Brasil” ; “Conselho de anciãos? O Senado e seus membros no Cone Sul”. In: O Senado Federal Brasileiro no pós-Constituinte. Brasília: Senado Federal, 2008.

LOUREIRO, M. R. “Os economistas no Brasil pós-64: formação acadêmica e participação no governo”. Os economistas no governo. Rio de Janeiro, Editora Fundação Getúlio Vargas, 1997.

RANINCHESKI, Sonia; LEMOS, Leany. O perfil sociopolítico dos senadores brasileiros. Revista Senatus, Brasília, v. 1, n. 1, p. 33- 39, 2002.

SENADO FEDERAL. Mulheres na política : retrato da sub-representação feminina no poder. – Brasília : Senado Federal, Procuradoria Especial da Mulher, 2016.

OGLOBO. Dos 27 Senadores Eleitos apenas 5 são mulheres. Disponível em: <http://g1.globo.com/politica/eleicoes/2014/blog/eleicao-em-numeros/post/dos-27-senadores-eleitos-apenas-5-sao-mulheres.html>. acesso em: 11/11/2017.

A IDEOLOGIA DE GÊNERO E A “NÃO-IDEOLOGIA”

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Muito se tem falado sobre a chamada “ideologia de gênero”. Para aqueles que assim classificam a questão, ideologia de gênero parece se referir a um conjunto de ideias, crenças e normas que promoveriam o incentivo às práticas e existências consideradas patológicas, desviantes ou “pecados”. Ideologia de gênero, portanto, é uma ameaça ao tradicionalismo.

O que não se tem discutido é: o que é, afinal, ideológico ou não? O que chamam de ideologia de gênero é ideologia? E o contrário, o nada, o vazio, o “normal”, não é também ideologia? O tradicionalismo se propõe como não ideológico, e este é um de seus maiores artifícios para que se mantenha como hegemônico. Pois àquilo que é estabelecido, por vezes não contestado, naturalizado, é mais difícil enxergar como construção social.

Neste cenário, de extrema preocupação com a educação sem “ideologia de gênero”, com o crescimento do movimento “Escola sem partido”, que ganhou projeção nacional e cada vez mais força frente aos legisladores, o gênero toma o foco da discussão. Para tal movimento, escola não é lugar de ideologia. Segundo eles, os professores seriam doutrinadores, que defenderiam as ideias de esquerda e a discussão sobre gênero, sexualidade e identidade. Não caberia à escola tal papel, pois isto seria como que um incentivo, segundo sua lógica, para que as crianças se tornassem homossexuais e de esquerda, desrespeitando os valores da família tradicional.

Mas a tradição não é, como já proposto, ela mesma, ideologia? Uma ideologia que aparentemente venceu uma disputa por poder e se tornou hegemônica? Não falar sobre gênero beneficia a quem? Beneficia a norma; beneficia os que são dotados de poder e oprime aqueles que estão às margens deste sistema.

Com a recente tramitação da PEC 181, que modifica a legislação acerca do aborto, e passa a criminalizar tal prática inclusive em caso de estupro, a questão de gênero novamente. Tal bandeira vem sendo defendida pelas bancadas religiosas e tradicionalistas, e apoiada pelos setores mais conservadores da sociedade, inclusive as religiões.

Apesar da força do conservadorismo, surpreendeu, essa semana, um cartaz de protesto contra a Proposta de Emenda à Constituição 181 de 2017, amplamente divulgado em páginas feministas no Facebook. Este cartaz, conforme imagem abaixo, mostra a pauta do movimento “Católicas pelo direito de decidir”, grupo atuante em 12 países do mundo, ativo no Brasil desde 1993. As católicas pautam, no cartaz, sua reivindicação pela legalização do aborto e pelo direito de escolha das mulheres baseando-se no livro sagrado de sua própria religião, em que Maria é consultada antes de ser mãe de Jesus [Imagem do cartaz em questão encontra-se ao fundo].

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Dados apresentados pelo jornal Estadão, na coluna Saúde, ainda em 2010, acerca de pesquisa realizada pela Universidade de Brasília, demonstram o perfil das mulheres que abortam no Brasil. Uma em cada sete entrevistadas, entre 18 e 39 anos, já teria abortado; 64% destas mulheres são casadas, 80% tem religião e 81% são mães. 51% declarariam, segundo informações do portal da Canção Nova – grupo que reúne editora, rádio, entre outros meios de comunicação da igreja católica – a religião católica.

As católicas parecem mostrar uma saída entre religião, ideologia e liberdade de escolha das mulheres. Pautando suas demandas feministas e se colocando enquanto religiosas e feministas ao mesmo tempo, parecem como que revelar que o estabelecido não é normal, que é norma; que tal hegemonia não é natural, e sim fruto de uma disputa pelo poder.  Resta à militância e à academia conseguirem, alcançar um discurso palatável, de um lado, e a capacidade de mostrar que a tradição também é ideologia, mas ideologia que mata mulheres.

Aqui, a crítica ao que se chama de ideologia de gênero passa a incidir sobre o direito das mulheres sobre seu corpo. Reitera o que, do outro lado, as feministas apontam como ideológico, mas do lado da tradição: a cultura do estupro. Reitera-se o papel passivo das mulheres, como reprodutoras, e se abstrai a violência vivida por estas. A importância do feminismo, neste contexto, é nos lembrar de que este sistema que permite a violência sexual contra as mulheres – baseado na objetificação dos corpos femininos e numa crença de superioridade masculina – é, também ele, uma forma de ver o mundo, um viés, dotado de interesses. Nada é normal ou natural na sociedade.

Precisamos falar sobre gênero. Precisamos falar na escola, na igreja, na comunidade, na política. Precisamos falar para as crianças, para que entendam desde cedo que a ideia de que homens têm direito sobre os corpos das mulheres é isso, uma ideia, uma crença, um valor, uma ideologia. Portanto não é natural, não é normal. A escola é fundamental neste processo, mas tal só ocorre quando há liberdade para que se mostre o outro lado, se desvende as estruturas de poder, se problematize as relações construídas – papel, por excelência, dos Cientistas Sociais.

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Por: Aline Oliveira

Fontes:

http://saude.estadao.com.br/noticias/geral,pesquisa-revela-que-uma-em-cada-sete-mulheres-ja-abortou-no-brasil,562093

https://noticias.cancaonova.com/brasil/estudo-mostra-perfil-das-mulheres-que-praticam-aborto-no-brasil/

Performance enquanto ato político

                                                                                                                               Por Yasmin Victoria

O ArtePet é um projeto do PET de Ciências Sociais que promove eventos acadêmicos e culturais como o CinePET e agora, o ArtePet debate, que teve como primeiro tema a performance como fazer político de resistência. O evento ocorreu no dia 28 de setembro no anfiteatro 200 da  biblioteca de humanas, na reitoria, com o título “ArtePET debate: performance enquanto ato político”. O evento consistiu em uma mesa de debate iniciado após a apresentação de cada convidado. A mesa contou com cinco convidadxs e mediação minha.

A primeira apresentação foi das duas palhaças, Mina e Nanique, do coletivo Risas y Rebeldia, que pautaram “acordos” precários de trabalho, principalmente referentes à aposentadoria e outros direitos trabalhistas, exemplificando a situação já referida por Marx de “exército de reserva” dos trabalhadores, que se sujeitam a péssimas condições de trabalho pois poderiam ser facilmente substituídos, por conta do alto grau de desemprego. Dentro disso, fizeram um recorte de gênero muito importante sobre temas como a diferença salarial entre homens e mulheres e a rejeição da mulher que tem ou pretende ter filhos dentro do mercado de trabalho. 

Em seguida, o performer da noite curitibana, LuaNegra, fez uma leitura dramática de um texto autobiográfico falando da sua ‘’resistência enquanto artista e enquanto pessoa na sociedade de hoje’’, como ele mesmo colocou. O texto permeava questões que estão sempre presentes em seu trabalho, como a dor dos povos negros escravizados, e a sobrevivência diária da pessoa negra e lgbt em um país racista e violento com corpos negros e divergentes da norma binária de dominação masculina. Sua luta permanece no reconhecimento e respeito a seus ancestrais, além da ocupação dos espaços, sabendo que seu corpo é um símbolo de resistência por si só.

A última apresentação, da pesquisadora licenciada em artes visuais pela UFPR, Greyce Santos, que pesquisa a arte na esfera pública como forma de ação política, ações artísticas que tem como objetivo envolver as pessoas, pensar formas de se reconectar e restituir vínculos, em um momento de fragilidade e instabilidade política no Brasil e nas artes como um todo. Um exemplo desse tipo de ação, apresentado por ela, foi o Silhuetaço, movimento organizado no fim da última ditadura argentina, encabeçado por mães de jovens desaparecidos. Em 1983, os números marcaram 30.000 desaparecidos. Os artistas locais tiveram a ideia de desenhar 30.000 silhuetas para representá-los, e tiveram ajuda das mães e outros manifestantes para produzi-las e pregá-las na chamada praça de maio.

Por fim, Dalvinha Brandão, comediante, drag queen conhecida por impulsionar a cena drag de Curitiba, optou por não fazer uma apresentação formal; toda sua ‘’montação’’, sua presença e comentários marcantes já eram explicativos por si só, sendo feita assim uma breve apresentação por mim e por ela antes de iniciar o debate. Dalvinha estuda e repassa por meio de cursos não só as técnicas mas a história do transformismo brasileiro.

O debate foi iniciado a partir da ideia do palhaço como uma personagem essencialmente político. Na sua origem, o palhaço é inspirado nas camadas sociais baixas, nos trabalhadores que não tem dinheiro pra comprar roupas da moda; aparenta sempre estar com roupas de segunda mão, que não servem ou não combinam direito. O palhaço é um sujeito que se expõem ao ridículo, que provoca, que gera a risada. Palhaças mulheres sempre existiram, mas agora possuem cada vez mais visibilidade, sempre com um desafio a mais de ocupar esse espaço antes não concedido.

Como Dalvinha coloca, a função do humor é produzir um retrato da sociedade, e em muitos casos, da parte contraditória, esquecida e não tão explícita da sociedade,  seja de preceito ou de pessoas que fujam de um padrão esperado, como o palhaço e a drag. O específico da drag é que ela causa reações não só na esfera da apresentação ou da instituição das artes cênicas; ela transita em um mundo que reage a ela.

Como aponta Greyce, essa interação cotidiana é importante para que a arte saia de seus moldes institucionais e chegue de fato nas pessoas; a arte em si já tem aspectos políticos, pois ela é reflexiva e provém do subjetivo. Iniciativas como a de LuaNegra, de performar em festas, combina a experiência visual e estética com reflexões importantes, como a de raça no Brasil, levando a arte para pessoas que não necessariamente procurariam por ela.

A performance ainda mais cotidiana é a do próprio corpo, andando na rua, e causando reações nas pessoas ao redor. Corpos que por si só já causam estranhamento, conjuntamente com objetos e características que parecem estar fora do lugar. É isso que acontece quando Dalvinha Brandão, montada, se dirige a algum lugar, ou quando LuaNegra, homem, negro, veste uma saia, sai de casa e permanece em algum lugar. Ou quando as palhaças, mulheres, vestem roupas consideradas masculina, prendem o cabelo, e andam pelas ruas. Como comenta Dalvinha Brandão, para a maioria dos artistas esse burburinho causado não é suficiente, é necessário criar um diálogo e uma forma de ação efetiva que ultrapasse a sensibilização.

As crescentes relações e discussões feitas entre a arte e a política não são à toa; os artistas foram os que sentiram fortemente uma onda de repressão e conservadorismo, principalmente após 2016, vindo pra cima de seus corpos e trabalhos. Agora, estamos em um momento de aprender a criar diálogos para possibilitar nossa existência e a de nossos trabalhos, não só com as esferas jurídicas mas também com as civis. É um momento de manter nossos direitos.

A partir disso, ficou o questionamento sobre como fazer isso e até que ponto a arte tem essa função de ser didática, perdendo sua característica mais subjetiva de sensibilização. Foram discutidas as recentes censuras nas artes, tanto performances quanto visuais, como a apreensão pela polícia dos equipamentos de som da companhia de teatro curitibana Selvática, no meio de uma performance que lidava com gênero, mas dentro do horário permitido por lei; ou a exposição de arte apoiada pelo Santander, que foi censurada após uma das lideranças de extrema-direita acusar uma obra de 1967, que explorava a sensibilidade, de retratar pedofilia. Já não é o bastante sermos artistas; necessitamos de representantes e de nos fazermos presentes, nos organizarmos enquanto coletivo. Grupos como MBL, se organizam para atacar expressões artísticas, se utilizando de categorias sensíveis e extremas, como a pedofilia, que geram uma reação irracional no senso comum; algo que gera uma reação caótica, e dialoga com as massas. Precisamos estar prontos para lidar com essas situações e dialogar com a mesma massa. Só não sabemos como.

Nesse momento de incertezas e desesperança política no brasil como um todo, a arte sofre um retrocesso e fica com incertezas de que modo agir, e fica mais fragilizada para resistir. O discurso conservador assusta e promove debates como estes porque ele não está mais em uma esfera geral, mas nos alcançou dentro dos nossos próprios espaços artísticos (muitas vezes institucionalizados) pensados antes como seguros para falarmos sobre nós e estarmos com certa liberdade de criação e de ações políticas. O consenso do debate foi encaminhado para uma arte sem hierarquias, que promova debates e reflexões políticas em diversos espaços possíveis. A hierarquia também não deve se fazer entre as formas de arte escolhidas para esse fazer politico, pois existe lugar tanto pra arte que discute a partir da sensibilização ou a arte que choca. A arte em si, já é revolucionária por se fazer nos mundos dos sentidos subjetivos e promover reflexões e experiências estéticas e sensoriais que são renegadas e consideradas antiprodutivas em uma condição capitalista. Sermos artistas é uma extensão do nosso ser, e se a militância existe, ela existe em todos os espaços, institucionalizados ou não, e a arte vai de encontro. Precisa cada vez mais ocupar e se tornar presente, seja como um meio de mudar ou escape para resistir.